Pesquisa aponta desafios da promoção da resiliência
Ao longo da vida, de uma maneira geral, os indivíduos se deparam com inúmeras dificuldades; e cada pessoa tem seu próprio limite e forma de como lidar e enfrentar as adversidades. Essa capacidade de superação, diferente em cada pessoa, é chamada resiliência. Existe um crescente interesse pelo estudo da resiliência e sua aplicação no campo da prevenção e promoção da saúde. Seguindo esta linha, a aluna do curso de mestrado em Saúde Pública da ENSP Laila Bom Rozembaum investigou fatores individuais, familiares e comunitários relacionados à diferenciação do desenvolvimento do potencial de resiliência na fase da adolescência, segundo questões de gênero, em alunos de escolas do município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
Segundo Laila,
essa nova tendência reflete o progressivo abandono da abordagem centrada
nos fatores de risco, e, em contrapartida, enfatiza os fatores
positivos que levam um indivíduo a superar as adversidades. Um dos
principais dados encontrados na pesquisa aponta que não há uma
associação entre o potencial de resiliência e a condição socioeconômica
dos adolescentes.
Sobre as relações
familiares, a pesquisa mostrou que o baixo potencial de resiliência está
associado estatisticamente a um relacionamento pouco ou extremamente
difícil do adolescente com a mãe/madrasta. Uma convivência extremamente
difícil com outros parentes também foi preponderante para o baixo
potencial de resiliência entre os adolescentes. Na mesma direção, a
ausência de supervisão familiar e a presença da violência psicológica
estiveram associadas. A estrutura familiar, o relacionamento com o
pai/padrasto e com os irmãos, problemas com álcool e drogas, e
violências do pai e da mãe contra o adolescente e deste com seus irmãos,
além da violência que ocorre entre os pais, não apontaram associação
estatística com o potencial de resiliência dos adolescentes.
Em seu estudo, Laila, que é psicóloga, mostrou ainda que os adolescentes aumentam suas estratégias de copin
– enfrentamento ou esforços cognitivos e comportamentais para lidar com
situações de dano, ameaça ou desafio quando não se está disponível uma
rotina ou uma resposta automática. Apenas esforços conscientes e
intencionais são considerados estratégias de coping, não sendo
consideradas respostas subconscientes -, ao aumentarem seu potencial de
resiliência. O contrário acontece com aqueles que denotam mais baixo
potencial de resiliência.
O coping de evitação
(negação e fuga) não se mostrou distinto entre adolescentes de mais alto
ou baixo potencial de resiliência. Já em relação aos sintomas
depressivos, adolescentes que os apresentam em nível clínico mostram
mais baixa capacidade de resiliência.
Em relação
ao gênero, as adolescentes têm menor probabilidade de apresentarem alto
potencial de resiliência, pois mencionaram ser bem difícil ou
extremamente difícil lidar com os irmãos. Já os meninos, nos
relacionamentos difíceis com os irmãos, apresentam maior probabilidade
de serem resilientes. Meninas também possuem menor probabilidade de
serem resilientes do que meninos ao considerarem que é muito estressante
morar amontoado.
Segundo Laila, este projeto
integrou uma pesquisa desenvolvida pelo Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP). Foi um estudo
transversal, com dados originários de um inquérito epidemiológico com
889 adolescentes escolares do município de São Gonçalo/Rio de Janeiro,
desenvolvido no ano de 2010. Participaram da pesquisa 44 escolas
públicas e 28 particulares, contando com duas turmas por escola.
“Existe um crescente interesse pelo estudo da resiliência e sua
aplicação no campo da prevenção e promoção da saúde, tendo como base o
indivíduo, a família, a escola e a comunidade. Essa nova tendência
reflete o progressivo abandono da abordagem centrada nos fatores de
risco e em contrapartida, enfatiza os fatores positivos que levam um
indivíduo a superar as adversidades”, disse ela.
Com os resultados desta pesquisa, Laila afirma que, seja qual for o
contexto, promover resiliência é um desafio. “Somente a partir da união
de forças das diversas estratégias dos governos, das escolas e da
comunidade, bem como esforços provenientes da própria família é que a
disseminação do conceito e a promoção da resiliência propriamente dita
pode acontecer”. Segundo ela, é importante apostar no efeito contagioso
da resiliência na comunidade para então promover a resiliência de cada
adolescente, de maneira singular, respeitando e incluindo as diferenças e
promovendo um ambiente fortalecido e uma cultura de superação.
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