Revistas científicas de países emergentes aumentam processo de internacionalização
Publicação de poucos artigos em inglês e em
colaboração
com o exterior afeta a visibilidade dos periódicos
nacionais,
avaliam especialistas em conferência da SciELO.
Agência FAPESP – As revistas científicas de países emergentes,
como China, Coreia do Sul, Rússia e Brasil, têm intensificado seu
processo de internacionalização – que pode ser medido pelo número de
artigos publicados em inglês, citação por outros países e pela
publicação de artigos de autoria de pesquisadores estrangeiros, entre
outros indicadores.
Os periódicos brasileiros, contudo, estão atrás das coleções desses
outros países na corrida pela internacionalização, uma vez que ainda
publicam menos artigos em inglês e em colaboração com o exterior.
A avaliação foi feita por participantes de um painel sobre medição da
qualidade das pesquisas e dos periódicos internacionais, realizado no
dia 24 de outubro, durante a conferência de comemoração dos 15 anos da Rede SciELO – Scientific Eletronic Library Online – um programa
da FAPESP e do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em
Ciências da Saúde (Bireme).
O evento em São Paulo reuniu especialistas em pesquisa e comunicação
científica de 25 países para debater a publicação da ciência em acesso
aberto e os desafios para o desenvolvimento dos periódicos científicos.
“Há um crescimento da internacionalização dos periódicos dos países
emergentes, que pode ser observado no fato de que muitas revistas dessas
nações começam a abrir espaço para a publicação de trabalhos de autoria
de pesquisadores internacionais”, disse Rogério Meneghini, diretor
científico da Rede SciELO, durante o evento.
Meneghini realizou um estudo comparativo da visibilidade
internacional de periódicos da China, Coreia do Sul, Brasil, Índia,
Rússia e África do Sul nos últimos anos, levando em consideração o
número de artigos publicados citados internacionalmente.
O estudo revelou que os artigos publicados nas revistas da China e da
Coreia do Sul têm maior impacto, em termos de citação internacional, do
que os disponibilizados nos periódicos da Rússia, da África do Sul, da
Índia e do Brasil. A coleção de revistas científicas brasileiras ficou
em quinto lugar nesse quesito entre os seis países emergentes
analisados, à frente apenas da África do Sul.
“As revistas científicas brasileiras ainda estão publicando um menor
número de artigos em inglês do que os periódicos desses quatro outros
países emergentes. Isso traz menos visibilidade internacional”, disse
Meneghini.
“Esse é um parâmetro importante, e que podemos controlar mais
facilmente, para possibilitar que os periódicos brasileiros tenham maior
visibilidade internacional”, avaliou.
Em comum, segundo Meneghini, esses países publicam uma grande
quantidade de artigos de autores nacionais – que representam, no total,
6% dos artigos indexados na base Web of Science. E seus periódicos têm
como um de seus objetivos escoar produções científicas que, muitas
vezes, não encontram espaço nas publicações internacionais.
Para aumentar esse escoamento, nações como a China recorrem aos
periódicos do Brasil e de outros países emergentes. A China é um dos que
mais citam artigos publicados em periódicos brasileiros e submete
estudos para revistas brasileiras realizados, em sua maioria, só por
pesquisadores chineses, sem colaboração internacional, ressaltou
Meneghini.
“É muito claro, no caso da China, que eles têm uma produção
científica imensa, que não encontra aceitação em periódicos
internacionais de maior destaque, e estão procurando espaço para
publicação que não possuem nem dentro do próprio país”, disse.
“Por isso, o país recorre a publicações de outras nações, como o
Brasil, como pode ser atestado pela quantidade de artigos de autoria de
pesquisadores chineses recebidos pelos editores de revistas
brasileiras”, disse Meneghini.
As revistas brasileiras que mais publicaram artigos de outros países
em 2010 e 2011, segundo Meneghini, foram a Genetics and Molecular Research
e o Journal of
the Brazilian Chemical Society. No caso da primeira, dois
terços das publicações da revista – que não está indexada na base da
SciELO Brasil – são de autoria de pesquisadores estrangeiros.
“Nos últimos dez anos, os países avançados aumentaram duas vezes a
publicação nos periódicos das nações emergentes, como os do Brasil”,
disse Meneghini. “Por outro lado, esses países emergentes aumentaram dez
vezes a publicação nos periódicos brasileiros.”
Já entre os periódicos brasileiros mais citados por outros países
estão o Latin American Journal of
Solids and Structures, o Brazilian
Journal of Chemical Engineering e o The
Brazilian Journal of Infectious Diseases – os três
indexados na base da SciELO Brasil.
“É interessante que dois desses três periódicos brasileiros mais
citados internacionalmente sejam da área de Engenharia de Materiais, ao
contrário dos outros países emergentes, onde as revistas nacionais mais
citadas são das áreas de Biologia e Medicina”, comparou Meneghini.
Pouca colaboração internacional
De acordo com outros especialistas participantes do evento, não há um
levantamento oficial do total de revistas científicas publicadas pelo
Brasil atualmente. Estima-se que existam 8 mil periódicos brasileiros em
atividade – número considerado muito alto.
“Essa grande quantidade de revistas talvez cause efeitos de dispersão
e de nivelamento por baixo da qualidade dos artigos científicos
publicados em periódicos brasileiros”, disse Isabelle Reiss, gerente de
contas da divisão de pesquisa científica da Thomson Reuters para a
América do Sul. Segundo ela, uma menor quantidade de periódicos
brasileiros tornaria a seleção de artigos mais rigorosa e,
consequentemente, aumentaria a qualidade e a visibilidade dos trabalhos
publicados.
Outro fator que influencia a baixa visibilidade dos trabalhos
publicados por pesquisadores brasileiros, de acordo com Reiss, é a pouca
colaboração com pesquisadores de outros continentes e da própria
América Latina.
Na avaliação dela, isso pode estar relacionado ao fato de a ciência
brasileira ainda ser muito jovem [em comparação com países da Europa
ou os Estados Unidos].
Reiss também comenta baixo número de artigos de revisão de literatura
– voltados a fazer um levantamento dos avanços em uma determinada área
do conhecimento – publicado nas revistas brasileiras.
“Os artigos de revisão são escritos por pesquisadores muito
informados, com experiência acumulada de muitos anos em suas respectivas
áreas”, disse.
“Em geral, esse tipo de artigo gera muito mais citações do que o de
resultados de estudos, porque apresenta uma síntese inteligente do atual
estágio de desenvolvimento de uma determinada área do conhecimento, que
será utilizado por diversos outros pesquisadores”, disse Reiss.
Quando os artigos de revisão são escritos em colaboração com
pesquisadores do exterior, o número de citações pode até ser duplicado,
afirmou a especialista.
Por isso, as revistas brasileiras deveriam publicar mais esse tipo de
artigo, que representa apenas 2,4% dos trabalhos publicados, estimou
Reiss.
“As revistas brasileiras poderiam tentar identificar dentro de suas
áreas pesquisadores muito experientes para escrever essas sínteses, a
fim de aumentar a visibilidade”, indicou.
Integração na Web of Knowledge
Durante o evento, a divisão de propriedade intelectual e ciência da
Thomson Reuters anunciou uma parceria com a SciELO para integrar o SciELO
Citation Index (índice de citação da SciELO) na Web of
Knowledge – plataforma que permite o acesso a várias bases de
dados de referência bibliográfica, como a Web of Science, Current
Contents Connect e Journal Citation Reports (JCR), tanto para busca como
para geração de indicadores bibliométricos.
Na avaliação das instituições, a iniciativa vai proporcionar maior
visibilidade e melhor acesso à pesquisa dos 15 países ibero-americanos e
da África do Sul, cujas coleções estão indexadas na base da Rede
SciELO.
“O acordo com a Web of Knowledge abre novos horizontes na missão da
SciELO de melhorar a visibilidade da ciência que é feita na América
Latina, Espanha, Portugal e África do Sul”, declarou Carlos Henrique de
Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, em um comunicado conjunto das
três instituições, anunciando o lançamento da iniciativa.
O SciELO Citation Index incluirá, aproximadamente, 650 títulos e mais
de 4 milhões de referências citadas de periódicos de acesso livre da
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Portugal,
África do Sul, Espanha e Venezuela.
“Há uma vasta quantidade de conteúdo científico valioso gerada e
publicada por periódicos de regiões emergentes, como a América Latina,
Caribe e África do Sul, e é importante que esse trabalho esteja visível e
possa ser acessado globalmente”, afirmou Abel Packer, diretor da
SciELO, no comunicado.
De acordo com a Thomson Reuters, a adição da SciELO na Web of
Knowledge seguirá um modelo semelhante ao do Chinese
Science Citation Database, que está hospedado na Web of
Knowledge desde 2008, e do lançamento planejado para 2014 de um banco de
dados de periódicos com literatura acadêmica coreana.
“Para nós, é um prazer colaborar com a SciELO para promover o alcance
de pesquisas importantes de regiões emergentes, bem como para aumentar
os nossos próprios dados ao integrar conteúdo de alta qualidade e acesso
livre na Web of Knowledge”, afirmou no comunicado Christopher
Burghardt, vice-presidente de negócios de pesquisa acadêmica e
científica da Thomson Reuters.
Por Elton Alisson
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