Ciência sem fronteiras, inovações sem limites
O programa "Ciência sem Fronteiras", concebido pelo
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e conduzido pelo CNPq, quer
ampliar a ação de ciência e tecnologia e de inovação do Brasil a partir
da presença de nossos jovens no exterior. Para isso está investindo no
aumento do intercâmbio científico, entre as instituições de pesquisa do
Brasil e de quase 30 países, gerando mobilidade internacional de nossos
pesquisadores e estudantes.
O programa é uma plataforma de intercâmbio, em que se
integram várias maneiras de interação entre a comunidade científica
nacional e internacional, mediante a concessão de 101 mil bolsas de
estudos. Com cerca de 26 mil delas, o CNPq está fazendo o que faz desde
que foi criado 1950: mandar jovens pesquisadores para os principais
centros de pós-graduação dos países desenvolvidos. Mas o impacto vai
além. Outras 11 mil bolsas vão ser usadas com novos propósitos: atrair
jovens pesquisadores brasileiros, já radicados no exterior, para voltar e
trabalhar no Brasil; enviar pesquisadores brasileiros para projetos de
desenvolvimento tecnológico e inovação no exterior; e trazer cientistas
estrangeiros experimentados para atuar como "pesquisadores visitantes
especiais" em nossas organizações de pesquisas.
A grande ousadia, entretanto, está no módulo "Graduação
Sanduíche": 64 mil estudantes de graduação vêm sendo selecionados e
enviados a centros universitários de todo o mundo para fazer parte de
sua graduação em sistemas educacionais competitivos em termos de
desenvolvimento tecnológico e inovação. Os impactos desse investimento
serão ainda maiores porque, iniciados mais cedo, vão ter ampliada
exponencialmente sua educação, com sua provável participação nos outros
módulos já citados.
Dois anos passados e a execução do programa já é um
sucesso. Glaucius Oliva, presidente do CNPq, informa que no início de
outubro já haviam sido selecionados quase 55 mil candidatos: ou seja, na
metade do prazo, 50% das metas cumpridas. Mais de 40 mil pesquisadores e
estudantes já se encontram nos países escolhidos realizando o seu
trabalho. Os demais aguardam apenas o trâmite da papelada.
Por experiência própria, nós, da Embrapa, não temos
dúvida que também será um sucesso. Nos anos 1970 e 1980, a Embrapa
enviou, para os principais centros de pós-graduação do mundo, mais de
quatro mil pesquisadores de seus quadros, dos institutos estaduais e das
universidades agrícolas, muitos recém-saídos da graduação. O resultado é
conhecido. O Brasil e sua agricultura tornaram-se referências mundiais
em pesquisa e inovação agrícola.
Aquele projeto nos ensinou que a inovação se dará em
pelo menos três dimensões. A inovação tecnológica, a dimensão mais óbvia
e visível, será decorrência das outras duas dimensões, a inovação
pessoal e a inovação institucional, essas duas menos perceptíveis, mas
mais profundas e duradouras em seus efeitos.
Imaginemos um jovem do módulo "graduação sanduíche".
Após meses de imersão numa cultura diferente e, em vários aspectos,
contrastante com a nossa, sofrerá uma aceleração no seu processo de
amadurecimento intelectual e profissional e mudanças relevantes na sua
compreensão da realidade e no seu juízo de valores. Terá novas,
diferentes e maiores ambições de realização científica e tecnológica.
Ele alcançará a proficiência em um segundo idioma, o que
vai lhe permitir explicitar-se melhor ante outros estudantes e
pesquisadores internacionais e ser avaliado por eles. Muitos vão se
articular e ser "adotados" por mentores e lideranças científicas
internacionais, integrarão redes de pesquisa, serão convidados para os
programas de mestrado e doutorado e, havendo condições, talvez trabalhem
nessas universidades.
A maioria voltará para nossas universidades,
organizações de pesquisa e empresas privadas de base tecnológica. A cada
retorno, nesse ciclo de formação científica, suas habilidades, conexões
internacionais e ambições expandidas fomentarão a revolução
institucional necessária para que toda a cadeia produtiva de ciência e
tecnologia do Brasil multiplique a sua competitividade e capacidade de
inovação.
Os benefícios são inimagináveis. Se, no passado, apenas
quatro mil jovens, centrados nas ciências agrárias e áreas correlatas
engendraram a revolução agrícola tropical que o mundo aplaude, não é
possível estabelecer limites para o que farão 100 mil jovens dedicados a
cerca de 20 áreas do conhecimento, todas elas sabidamente "portadoras
de futuro". É o que teremos: inovações sem limites.
*Maurício
Antônio Lopes é presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa)
FONTE: Jornal da Ciência, 18/11/2013
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