Avaliação de projetos pela revisão por pares
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Reportagem do jornal espanhol
El País relata como instituições
de diferentes países analisam pedidos de
financiamento à pesquisa
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A necessidade de garantir que as pesquisas aprovadas tenham a qualidade e o
caráter inovador que delas se espera torna a avaliação dos projetos científicos
um processo bastante complexo e rigoroso. Em um local e momento de diminuição de
verbas públicas para a ciência, a importância da avaliação é ainda maior.
É o que destaca reportagem do jornal espanhol El País que mostra
como instituições da Espanha e de outros países analisam os milhares de
propostas que recebem a cada ano.
Segundo a reportagem, somente os próprios cientistas são capazes de julgar se
um estudo científico tem rigor e relevância suficientes para receber as
disputadas linhas de financiamento. Com uma e outra especificidade, no geral se
adota o sistema de revisão por pares (peer review, em inglês).
“A revisão entre pares é um processo de separação do pó da palha e de
atribuir recursos financeiros escassos aos projetos científicos que os merecem”,
disse Luis Sanz, diretor do Instituto de Políticas y Bienes Públicos no Consejo
Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), ao El País.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem uma explicação mais
formal para o sistema: “A revisão por pares é uma avaliação técnica que
tradicionalmente desempenha um papel central na pesquisa científica e faz parte
dos procedimentos de decisão para a atribuição de recursos e a formulação
estratégica de programas. É utilizada por todos os atores da pesquisa, incluindo
governos e empresas”.
Um dos exemplos apurados pelo periódico espanhol é o do European Research
Council (ERC), que
recebe em torno de 10 mil propostas anuais.
Cerca de 10% das propostas submetidas ao ERC são aprovadas. A seleção por
pares leva meses e custa cerca de 0,6% do total investido no financiamento das
pesquisas aprovadas. “Mas o maior desperdício seria investir o dinheiro em
projetos abaixo de ótimo ou de segundo nível. Isso sim seria tirar dinheiro do
contribuinte”, comentou Alejandro Martin Hobdey, chefe de coordenação de
convocações do ERC, em Bruxelas (Bélgica).
Na Espanha, desde 1986, quando o primeiro Plano Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento foi lançado, os projetos financiados pelo Estado ou por
comunidades autônomas são analisados por pares.
“Avaliamos todo ano cerca de 25 mil processos, entre contratos e projetos, e
participam deles cerca de 33 mil avaliadores”, explicou Julio Bravo, diretor da
Agencia Nacional de Evaluación y Prospectiva (Anep). Em 2012, a verba total
distribuída entre os 3,1 mil projetos selecionados para o Plano Nacional de
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação foi de 309 milhões de euros e o custo da
avaliação, segundo Bravo, foi de 0,5% desse valor.
Outro exemplo citado pela reportagem é o da National Science Foundation
(NSF), uma das duas
grandes agências federais de fomento à pesquisa nos Estados Unidos. A NSF
avaliou 51.562 propostas no ano
fiscal de 2011. São cerca de 32 mil cientistas envolvidos no processo de
avaliação – também baseado no sistema peer review e que, somado aos
custos de gestão e operação, consome cerca de 6% do orçamento anual da
instituição.
Para Pere Puigdomenech, pesquisador do CSIC e especialista em biologia
vegetal, a revisão por pares pode ter defeitos. “O maior deles é o conflito de
interesses, porque o avaliador pode ter interesse no projeto que avalia, ou
amizade com o pesquisador, ou o contrário. A solução está na transparência do
processo, em utilizar o maior número possível de avaliadores e na maior
distância geográfica possível destes em relação aos que apresentam os projetos”,
disse.
Puigdomenech é defensor da participação de cientistas estrangeiros nos
processos de avaliação, estratégia que envolve custos, mas pode favorecer
análises mais criteriosas. No sistema espanhol da Anep, 9% dos avaliadores são
estrangeiros e há áreas, como a física de partículas, que sempre contam com
especialistas de outros países, segundo o El País.
A reportagem do El País está publicada em: http://sociedad.elpais.com/sociedad/2013/07/04/vidayartes/1372964235_538951.html
FONTE: Agência FAPESP, 14/08/2013
FONTE: Agência FAPESP, 14/08/2013
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