Conheça diferenças entre a depressão e o estado de melancolia

Justine (Kirsten Dunst), deusa e mártir da melancolia, luta contra o sentimento paralisante no longa do dinamarquês Lars von Trier

Iara Biderman
Guilherme Genestreti
de São Paulo
 
O cineasta dinamarquês Lars von Trier trouxe à cena a melancolia, que estava escondida num canto escuro da casa, encoberta pelo termo médico "depressão".
Seu novo filme é um retrato desse estado de ânimo em todos os aspectos: dos psiquiátricos (sintomas da depressão) aos filosóficos (a tristeza como consciência da solidão humana no universo).

O tema está na ordem do dia, afirma o psicólogo Marco Antônio Rotta Teixeira, que faz sua tese sobre melancolia e depressão na tradição do pensamento ocidental. "Mas a melancolia vem sendo falada com a roupa da depressão."

O atual conceito médico da depressão usa dados mensuráveis para definir esse estado, como tempo de duração de sintomas.


Para a psicanálise, a melancolia é o estágio mais extremo da depressão. A apatia do melancólico é fruto da perda de algo ou de alguém, que precisa ser compreendida e superada, em um processo semelhante ao do luto. A diferença é que, enquanto no luto a perda é compreendida, na melancolia ela é inconsciente: não se sabe o que foi perdido.


"Nada atrai o melancólico, a não ser o próprio sofrimento. Ele está absorvido nele mesmo", diz Sandra Edler, autora de "Luto e Melancolia: À Sombra do Espetáculo" (Civilização Brasileira, R$ 19). A cultura atual conspira contra o melancólico, diz a psicanalista. "Se a pessoa perde algo, precisa se recolher, mas a vida a chama para um eterno desempenho, se não quiser perder espaço."


É o que pensa, também, a psicóloga Ana Cleide Moreira, autora de "Clínica da Melancolia" (Escuta, R$ 37). "Se não temos tempo nem de pensar, não percebemos a perda de algo importante."


Nesse caso, é mais fácil aliviar o sofrimento com remédios. "A sociedade não assimila os estados de tristeza. Precisamos eliminá-los rapidamente para continuar trabalhando", diz Teixeira.

Essa crítica não significa, ressalta ele, fazer apologia da tristeza ou rejeitar as chances dadas pela ciência para lidar com ela.


"As pessoas falam que há um aumento dos casos de depressão, mas o que as pesquisas mostram é um aumento na prescrição de antidepressivos", diz o psiquiatra Ricardo Moreno, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Mas psiquiatras, psicanalistas e psicólogos concordam que drogas têm um papel importante.

"Muitas vezes é necessário tratar a melancolia com remédios. Sem eles, alguns não conseguem nem chegar ao consultório", diz a psicanalista Sandra Edler.


TEMPERAMENTO DE GÊNIOS


No filme de Trier, as referências aos sintomas de depressão são explícitas. Como na cena em que Justine (personagem baseada na experiência pessoal do cineasta) não consegue nem entrar no banho.

Os clichês usados para abarcar a tristeza profunda também estão lá: noite, lua, sombras, noiva.


É a retomada da concepção de melancolia como algo que tem uma manifestação doentia (a depressão), mas não é só isso, não pode ser explicado só pela ciência e transcende o indivíduo.


Mesmo sem dizer seu nome, as pessoas reconhecem o sentimento de melancolia. Está na hora em que você percebe não fazer parte da festa, no banzo da noite de domingo, na lembrança da morte.


"A melancolia ganhou diferentes definições na história e até hoje é assim, dependendo de quem fala dela" diz Teixeira.

Leia mais aqui.

FONTE: Folha,com. 16/08/2011.

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