Pesquisa a todo vapor

Brasil e outros países emergentes conquistam espaço entre os pesos-pesados da pesquisa científica e mostram que não são apenas novas potências políticas e econômicas no cenário mundial.


por Lúcia Müzell, de Paris

Em relatório do instituto Royal Society, a prestigiada academia britânica de ciências, mostra que brasileiros, chineses e indianos se consolidam como cientistas promissores e começam a se aproximar da produção científica de países como Estados Unidos e Japão e da Europa ocidental. Enquanto os tradicionais "superpoderosos da ciência" apresentam dados altos, mas estagnados ou mesmo em declínio nas pesquisas acadêmicas, os emergentes não param de multiplicar as publicações internacionais, as parcerias e as verbas disponíveis para a pesquisa.

Num avanço avassalador, a China roubou a segunda posição do Japão em publicações em revistas científicas internacionais, e hoje se encontra atrás apenas dos Estados Unidos no ranking mundial. Entre 1999 e 2003, os chineses estavam na sexta posição, responsáveis por 4,4% das publicações. De 2004 a 2008, consagraram-se como autores de 10,2% dos trabalhos. Mesmo permanecendo na liderança, os americanos têm diminuído o ritmo de publicações, passando de 26,4% para 21,2% do que é produzido no planeta. O aumento das publicações científicas do Brasil foi de 1,3% para 1,6%.

A perspectiva do Royal Society é a de que, possivelmente já a partir de 2013, a China ultrapasse os Estados Unidos e se torne a líder mundial em publicações. Na sequência, a partir de 2020, Brasil, Índia e Coreia do Sul dispõem de todas as fichas para publicarem mais do que potências como a França e o Japão.

"O mundo da ciência está mudando e novos atores estão aparecendo. Nenhuma nação historicamente dominante pode repousar sobre seus laureados se quiser preservar suas vantagens, em termos de competitividade econômica: é preciso continuar investindo em pesquisa científica", alerta Chris Llewellyn Smith, diretor do estudo Conhecimento, redes e nações: colaboração científica global no século 21, publicado recentemente.

O relatório saúda a intenção brasileira de aumentar de 1,4% para 2,5% do valor do Produto Interno Bruto (PIB), até 2022, para a pesquisa e desenvolvimento. Nos Estados Unidos e na União Europeia, a meta - considerada um excelente pontapé inicial para um país se comprometer com a pesquisa acadêmica - é de 3% do PIB.

O documento destaca também a força dos brasileiros nas pesquisas de agricultura e biocombustíveis, e dos chineses e indianos nas engenharias e nanotecnologia. Entretanto, afirma o Royal Society, os países desenvolvidos continuam sendo a referência internacional nestes campos, situação que no futuro poderá se inverter se os emergentes persistirem nesta via de favorecimento à pesquisa.

Colaboração internacional

O relatório comprovou o aumento das cooperações internacionais nas pesquisas científicas: hoje, 35% das publicações em revistas internacionais são escritas com mãos de diferentes nacionalidades, contra 25% há 15 anos. Não é para menos, explica Philip Ruffles, um dos autores do relatório: diante de problemas cada vez mais mundiais - como as mudanças climáticas, a segurança energética e a preservação da biodiversidade -, a busca por soluções eficazes precisa ser internacionalizada.

Estão por trás da evolução dos dados de cooperação internacional a ampliação das redes de conhecimento, as facilidades tecnológicas que ampliaram as possibilidades de comunicação e os transportes mais acessíveis.

"Felizmente, os países estão percebendo rápido que há uma série de problemas comuns nos quais todos precisam pensar juntos. Se você quiser alcançar os melhores resultados em pesquisa, é fundamental que pense globalmente, e não localmente", explica Ruffles. "As colaborações científicas são um mecanismo importantíssimo neste sentido e estou certo de que vão continuar aumentando nos próximos anos."

Os emergentes, porém, têm ainda um vasto terreno para percorrer, uma vez que cerca de 70% das publicações acadêmicas destes países permanecem no âmbito nacional. As colaborações sul-sul, como as que o Brasil tem realizado com países africanos, podem ser uma boa alternativa para o aumento das parcerias internacionais - e que rapidamente podem evoluir para um trabalho sul-norte-sul, como é o caso de um projeto de biocombustíveis comandado por pesquisadores brasileiros, britânicos e sul-africanos, citado pelo relatório.

Ruffles lembra que as parcerias abrem as portas para novas publicações em revistas consagradas, fundamentais para uma carreira acadêmica de sucesso.

São Paulo se destaca

No estudo do Royal Society a capital paulista ganha destaque pelo salto no ranking das cidades que mais produzem artigos científicos no mundo. Desde 1996, São Paulo subiu do 38º lugar para a 17ª posição na lista. O relatório atribui a rápida ascensão, principalmente, ao envolvimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que conforme prevê a constituição estadual recebe 1% da receita tributária. O documento do Royal Society cita o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, que afirmou que "nenhuma agência de financiamento de pesquisa tem uma tal segurança e autonomia do governo federal quanto São Paulo".


FONTE: Ensino Superior, Edição 153

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