Os créditos do autor… autor do quê?





Por Ernesto Spinak

Por muitos anos o impacto das publicações de um autor medido pelo Fator de Impacto (FI) das revistas em que o autor publicava tem sido usado como uma medida relevante para avaliar o progresso de sua carreira científica. Esse parâmetro é usado em geral pelas universidades e agências do governo em uma escala de relevância para estabelecer posições ordenadas por méritos.
No entanto o FI como uma medida do impacto e produtividade de autores individuais, que surgiu na época da little science como definida por Price (1963), não é uma boa medida quando já se passou nas últimas décadas para o estado de maturidade da big science.
De acordo com o conceito estabelecido por Price, durante o período da little science é comum o pesquisador trabalhar sozinho ou em grupos reduzidos, mas quando a ciência passa para a maturidade – big science – a característica é a colaboração científica que permite o desenvolvimento de grandes projetos e o acesso a fontes de financiamento. De acordo com a teoria “elitista” de Price é normal existir um núcleo de pesquisadores extremamente ativos e uma ampla população flutuante de pessoas que colaboram com os líderes. A colaboração científica é uma consequência da profissionalização do trabalho que envolve tanto as organizações, as agencias de financiamento, como cientistas individual e coletivamente.
Então, quando se avaliam os méritos de um autor de uma publicação (chamaremos de Impacto?) surge a pergunta do título desse artigo… autor do quê? Em outras palavras, em um trabalho cooperativo onde participaram dezenas de especialistas as perguntas são: quem é O autor? Todos fizeram o mesmo, as diferentes contribuições têm a mesma originalidade ou importância, como se repartem os méritos?
A atividade científica é um empreendimento social (e também empresarial, por que não?) onde as regras de promoção, marketing, e premiação não são muito diferentes dos outros empreendimentos tais como a indústria cinematográfica. Esta comparação já havia sido levantada reiteradas vezes na literatura especializada, e uma mais recente foi publicada na Nature, onde o autor disse:

Quando se trata de repartir o crédito, a ciência poderia aprender com o cinema. Desde 1934, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, onde se premia com o Oscar, tem mantido um índice dos créditos dos filmes, que agora se chama Motion Picture Credits Database. (Frische 2012) (Tradução livre)

A pesquisa científica assim como a indústria cinematográfica não é uma atividade individual. Certamente existem exceções, como “El Mariachi de Carlos Gallardo que filmou com USD 7.000 em 1992 e foi um êxito com muitos prêmios internacionais. Mas ninguém poderia pensar que filmes como “O Poderoso Chefão”¹ que ganhou 3 Oscars, o “Gladiador”² com um orçamento de 104 milhões de dólares e 5 Oscars, são empreendimentos individuais, ou mérito de poucas pessoas. Por essa razão a Academia não premia “autores” mas registra “créditos” a várias pessoas em 24 diferentes categorias³, tais como melhor ator, diretor, roteiro original, efeitos visuais, música, etc.
Esse é o tema abordado em recente artigo publicado na Nature, com o título Publicação: crédito a quem merece o crédito, onde se afirma que não é uma tarefa simples hoje em dia determinar em um trabalho publicado, o que fez ou em que colaborou cada uma das pessoas indicadas como autores, ou nas seções de reconhecimento ou contribuição da maioria das revistas.
Além disso, como essas seções não estão estruturadas ou normalizadas é muito difícil usar técnicas de mineração de dados para extrair essa informação.
Os autores do artigo da Nature que comentamos, propõem uma taxonomia para categorizar os diferentes papéis que tem os cientistas e os especialistas que participam em uma publicação e, a partir daí, poder extrair e indexar corretamente as funções utilizando um software apropriado. Nesta linha de ação proposta seria possível avaliar os profissionais em suas diferentes especialidades sejam os que projetam as metodologias, os que escrevem, os profissionais de laboratório, os que fazem análises estatísticas, etc. Dessa maneira os editores poderão melhor selecionar quem seriam os árbitros mais apropriados para avaliar um artigo, ou as agências de financiamento teriam facilidade para avaliar as equipes de pesquisadores que solicitam recursos.



FONTE: SciELO em Perspectiva, 17/07/2014.

 

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