Pesquisa falsa de autor fictício é aceita por mais de 150 revistas científicas

Mais de 150 publicações científicas morderam a isca de John Bohannon 
Foto: David Plunkert / Science Magazine

 Estudo da Science Maganize reforça importância de revisão criteriosa

           Basta procurar "diz estudo" no Google para que mais de um milhão de resultados apareçam apresentando as mais diversas descobertas da ciência. "Diz estudo" se tornou um atalho rápido para a divulgação científica pelos veículos de comunicação (inclusive o nosso): geralmente, a frase adorna títulos de notícias elaboradas a partir de artigos públicados nas revistas especializadas, que servem como filtro do que é ciência de verdade e o que é baboseira. Mas será que essas revistas são assim tão confiáveis?

          Uma delas, a Science Magazine, acaba de dizer que não. Num artigo publicado na sexta-feira na Science, o americano John Bohannon mostra o que aconteceu quando ele enviou para 304 revistas científicas um artigo sem pé nem cabeça: 157 delas aceitaram.

          O trabalho de Bohannon, assinado por um fictício autor de nome estapafúrdio - Ocorrafoo Cobange -, versava sobre uma molécula que, extraída de um líquen (simbiose de alga e um fungo como o cogumelo), teria o superpoder de combater o câncer. Não bastasse o autor ser inexistente, sua universidade também está para ser encontrada no mundo real: o Wassee Institute of Medicine, sediado em Asmara, é produto da imaginação de Bohannon.

        - De um início modesto e idealista uma década atrás, revistas científicas de acesso aberto se expandiram a uma indústria global, movida por taxas para publicação em vez de inscrições tradicionais - afirma Bohannon.

       Segundo o americano, era de se esperar que uma publicação como o Journal of Natural Pharmaceuticals, editado por professores de universidades do mundo inteiro, conduzisse revisões criteriosas. A revista é uma entre mais de 270 publicações sob o guarda-chuva da Medknow, empresa indiana que se anuncia como o nome por trás de mais de 2 milhões de artigos baixados a cada mês por pesquisadores. A Medknow, diz Bohannon, foi comprada em 2011 pela multinacional holandesa Wolters Kluwer. Ela pediu a Cobange apenas "mudanças superficiais" no artigo antes de publicá-lo.

      O artigo foi aceito por instituições acadêmicas de prestígio como a Universidade de Kobe, no Japão, e até por revistas que sequer tratavam do tema, como o Journal of Experimental & Clinical Assisted Reproduction, pautado por estudos na área de reprodução assistida.

      Bohannon afirma que apenas a revista da Biblioteca Pública de Ciências, a PLoS One, chamou atenção para os potenciais problemas éticos do artigo, como a falta de documentação sobre o tratamento a animais que teriam gerado células para o experimento de Cobange. A publicação foi uma das que rejeitou o artigo.

      A "pegadinha" de Bohannon reforça a importância de revisão de pares (peer-reviews) nas revistas científicas. E, caso tenha ficado a dúvida, e até prova em contrário, preferimos acreditar que Bohannon existe.

 

FONTE: Zero Hora online, 5/10/2013. 

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