Política de cotas avança na pós-graduação
Depois da UnB, USP e Uesb, a UFRJ adota medida afirmativa
Menos de um ano depois da vigência da Lei de Cotas, que garantiu
pelo menos 12,5% de reserva de vagas em todos os cursos de graduação das
universidades e institutos federais, algumas instituições de ensino superior
foram além e já aplicam políticas afirmativas na pós-graduação. É o caso do
programa de Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ, que vai reservar pelo
menos duas vagas para indígenas e adicional de 20% para candidatos negros, além
de nota de corte inferior aos outros concorrentes.
A iniciativa saiu do papel em fevereiro e é válida para o processo
de seleção ainda deste ano. Os primeiros cotistas do Museu Nacional devem
ingressar em 2014. "A medida foi adotada em função da dinâmica interna que busca
fortalecer a diversidade étnica", afirmou João Pacheco, subcoordenador do
programa de pós-graduação do Museu Nacional.
João ainda explicou a diferença no processo seletivo para os
candidatos que se declaram indígenas. "Para eles, basta levar um currículo e
fazer uma entrevista com a banca. A seleção comum tem prova escrita, de inglês,
além de outras etapas". Segundo o antropólogo, muitos candidatos indígenas
trazem a diversidade de suas línguas nativas, o que enriquece o programa de
Antropologia social, mas poderia ser uma barreira para entrar no curso por conta
das etapas de seleção.
Além da UFRJ, outras universidades também passaram a adotar a
medida recentemente. O Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília
(UnB) aprovou, em julho deste ano, a reserva de 20% das vagas do mestrado e
doutorado para negros. A proposta, porém, ainda precisa passar pelo aval do
Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB. A expectativa é de que as cotas
comecem a valer em 2015.
Já na USP, a pós-graduação em Direitos Humanos separou um terço
das vagas do curso para negros, indígenas, pobres e deficientes físicos. A
iniciativa de 2006 foi o primeiro caso na universidade paulista, que
historicamente se posiciona contra a política de cotas.
No Brasil, o caso mais ousado de ações afirmativas na
pós-graduação acontece na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).
Desde 2007, a instituição reserva 40% de vagas para negros e 5% para indígenas
em todos os cursos de mestrado e doutorado da universidade.
Opiniões adversas - Em entrevista para a revista
Veja, em março deste ano, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, posicionou-se contra a extensão
das cotas para a pós-graduação. "Depois de uma graduação, as diferenças na
largada da vida acadêmica já deveriam ter sido sanadas há tempos. Se elas não
foram, infelizmente, não é possível almejar um mestrado, muito menos um
doutorado", declarou à publicação.
Para o diretor da ONG Educafro, Frei David, as cotas são
importantes pela alta subjetividade presente durante o processo seletivo para
estes cursos. "Hoje, o professor tem um poder supremo na escolha dos mestrandos
e doutorandos. As cotas são o poder democrático no processo."
Segundo dados de 2012 da Secretaria de Assuntos Estratégicos do
governo federal (SAE), apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer
pós-graduação são negros. O número é pequeno em relação à porcentagem de negros
que constituem a sociedade brasileira, cerca 51% segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Em respostas às críticas à política afirmativa adotada pelo Museu
Nacional, João Pacheco refuta os argumentos que questionam uma possível queda de
qualidade no curso. "Nós somos um programa nota 7 (máxima) no MEC. Não iríamos
arriscar a reputação do curso para fazer uma medida populista. Nossa posição é
no sentido de buscar mecanismo de incorporação."
(Paloma Barreto, Jornal da Ciência)
FONTE: Jornal da Ciência, 17/09/2013
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário: